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Autoconhecimento: O poder de dentro para fora!

Na entrada do Oráculo de Delfos, templo dedicado a Apolo na Grécia Antiga, encontrava-se os seguintes dizeres: “Conhece-te a ti mesmo e conhecerás o Universo e os Deuses”. Essa frase foi uma das primeiras frases que aprendi na faculdade de Naturologia, minha primeira formação acadêmica.

A frase, popularizada por Sócrates, é atribuída a Tales de Mileto, tendo sido proferida há mais de 2.500 anos. Ela é a base de quase todas as filosofias orientais, como a Medicina Chinesa e Medicina Ayurvédica.

Ela é considerada um marco do nascimento da filosofia ocidental, ao colocar o homem e sua capacidade de reflexão no centro dos acontecimentos. Assim, ela dá ao indivíduo o poder de definir a sua relação consigo mesmo, com os outros e com o mundo.

Para Sócrates, a filosofia vem de dentro para fora. Sua função é despertar o autoconhecimento, pois a verdade está dentro de cada um.

E o que é essa busca pelo autoconhecimento?

Autoconhecimento e Neurociência

Atualmente, muito se fala sobre a importância do autoconhecimento para diversas situações na vida: ter sucesso pessoal e profissional, melhorar o relacionamento com as pessoas, aprimorar a saúde, aproveitar melhor o tempo, etc.

A ideia de autoconhecimento tornou-se muito popular, juntamente com as sessões de autoajuda.

A autoajuda, apesar de simular um certo tipo de autoconhecimento, tem referências retiradas das mais diversas fontes – psicologia, religião, programação neurolinguística e até os gurus.

O campo do autoconhecimento sempre foi facilmente relacionado com as ciências humanas e a filosofia.

Mas aqui, gostaria de falar um pouco dele na área das Ciências Biológicas.

autoconhecimento

Você deve estar pensando: Mas as ciências biológicas não tem nada a ver com isso!

Bom, a Neurociência, por exemplo, faz parte das Ciências Biológicas. Ela se empenha em estudar o cérebro e suas reações frente as coisas que acontecem com o nosso corpo. Por que ela não poderia falar sobre autoconhecimento, já que, compreende de forma biológica as nossas sensações e sentimentos?

Quando penso em autoconhecimento, penso num estudo que englobe o ser humano e a gestão dos seus sentimentos e emoções junto a ciência.

O papel do cérebro

O cérebro (e todo o sistema nervoso), é responsável pela forma como interpretamos tudo ao nosso redor: nossas experiências, pensamentos, sensações, ambiente e temperatura. Na Neurociência estudamos tanto a cognição quanto a emoção.

O misterioso não está lá fora, está dentro de nós mesmos! Somos um universo, cheio de estrelas e constelações. Esse conhecimento sobre o cérebro, neurônios e circuitos pode ser o início de um jornada inteligente a favor de si mesmo.

Primeiramente, o estudo do funcionamento cerebral mostra que nosso sistema emocional precisa ser melhor explorado e compreendido.

Dessa forma, as reações se tornam aliadas e não inimigas, como já vimos em alguns textos sobre Gestão Emocional que publiquei aqui.

Conseguimos controlar as nossas emoções?

Dicas para gerir as emoções

O segundo passo nessa jornada é utilizar desse conhecimento que adquirimos por meio da Neurociência para se autoconhecer. Nesse processo o envolvimento do sentimento, razão e lógica já farão parte do contexto.

No entanto, com a correria da vida moderna, ficamos voltados para o mundo exterior, priorizando a fama, o poder, o dinheiro, etc. Dessa forma, a autorreflexão sobre as coisas que acontecem com a gente, vai ficando de lado.

Fomos nos acostumando a viver no piloto automático, alimentando hábitos e tendências, repetindo os padrões e, consequentemente, deixando de arriscar por medo de errar e de se machucar. Esse é um mecanismo que conseguimos ver nos estudos da Neurociência.

O problema é que em meio a uma situação difícil e dolorosa, ficamos tão vulneráveis que, em busca de algo para nos apoiar, usamos “bengalas”. Momentaneamente, elas parecem ser seguras, mas aos poucos não auxiliam de forma completa.

Os perigos da autoajuda

Percebi que diante dessa dificuldade, o setor de autoajuda das livrarias é o que mais aumenta e fornece conteúdos pouco aprofundados e sem abertura para reflexões. Dessa forma, ficamos imersos em um mar de pseudos gurus, curas milagrosas, xamãs mágicos que não nos levam a lugar nenhum!

Nesses casos me questiono sobre a veracidade das informações e a real função delas no processo de autoconsciência.  Para que serve um guru, xamã ou mestre na nossa vida?

Quando falo sobre isso, gostaria de deixar claro que não estou falando de religião. Falo sobre o papel e o significado que estamos atribuindo a essa pessoa/figura dentro da nossa vida.

Com certeza é muito bom ter alguém ou algo para nos inspirar, nos motivar, ensinar, trazer novas perspectivas e novos olhares!

As vezes estamos afundados em situações ou problemas que dificilmente enxergamos uma saída. É natural viver esses momentos!

Entendo como muitas vezes, caímos nesse tipo de situação e acabamos procurando pessoas que nos orientem de alguma forma.

autoajuda

Mas ultimamente o que vem me assustando são as pessoas atribuindo muita responsabilidade as figuras do guru, mestre, xamã, etc. Elas depositam esperanças que vão muito além da função, qualidade e responsabilidade dessas pessoas.

E ai, obviamente, ficamos pasmos ao ver atitudes não éticas e morais pelos próprios gurus e mestres, como observamos recentemente.

Não quero falar sobre quem está certo ou errado, quero falar sobre o perigo de passar a responsabilidade do seus atos e crenças para uma outra pessoa.

Observo que nós, seres humanos, temos essa tendência.  Gosto de chamar isso de departamentalização de responsabilidade da própria vida.

Há psicólogos, médicos, terapeutas, etc. que exercem essa função e que possuem um papel importante no nosso processo de conscientização.

Porém, até que ponto essas pessoas podem ser completamente responsáveis pelo nosso processo de transformação? Até onde vai a responsabilidade desses profissionais em relação a nossa vida?

Autoconhecimento e responsabilidade

Você não é o Mogli que vive no meio da floresta sem contato com o mundo humano! Grande parte das suas experiências envolvem a relação com outras pessoas. Isso acaba deixando tudo mais complicado!

Como seres humanos, temos a tendência de colocar a culpa dos nossos problemas nos outros. É mais fácil, indolor e o problema está resolvido.

Quem nunca?

Só que temos um problema: Enquanto culparmos e acharmos que todos estão errados e somente a nossa verdade é absoluta, não estaremos no caminho do autoconhecimento.

Para se auto-conhecer também é necessário compreender o posicionamento/opinião do outro bem como os seus motivos.

relacionamento

Gosto de trabalhar com uma palavra que tem muito sentido no nosso dia a dia: a auto responsabilidade. Precisamos ser auto responsáveis pelo nosso desenvolvimento.

Por exemplo: Se eu estou em uma situação que não me sinto feliz (seja no trabalho, na escola ou num relacionamento) preciso pensar:

Qual a minha responsabilidade nisso tudo?

O quanto eu contribui com isso?

O que eu fiz, deixei de fazer ou poderia ter feito?

Por isso, é importante fazer uma autorreflexão e aproveitar as vivências, acumulando aprendizagens. Tudo é uma forma de crescimento, sabedoria, desenvolvimento e evolução.

Mesmo as experiências mais difíceis e dolorosas, como perder uma pessoa querida, podem nos fornecem os maiores aprendizados da vida!

Aprender a interpretar o que estamos sentindo e o que cada situação nos gera é o princípio do autoconhecimento,

Por onde começar?

O que eu gostaria de deixar claro é que o processo de autoconhecimento não é um caminho fácil como muitos pregam.

Ele é doloroso, leva tempo e muita coragem, pois nos deparamos com questões próprias e com tudo que guardamos (ás vezes, situações não resolvidas), e escondemos numa tentativa de se proteger.

Esse é um processo de dentro para fora. Existe curso? Existe manual? Viver tem um manual? NÃO!

É por meio das nas nossas vivências e experiências, sejam elas positivas ou negativas, que construímos e reconstruímos os significados e, finalmente, aprendemos.

Porém, de acordo com o cérebro, as vivências que temos e que damos uma conotação negativa, de fato são vivências que ameaçam a nossa sobrevivência de alguma forma.

Por isso, as experiências que nos marcam emocionalmente e que não queremos reviver, nos afastam dessas mesmas situações futuramente.

caminho do autoconhecimento

E para se auto-conhecer leva muito tempo?

Na verdade, esse é um processo que nunca acaba. Minha professora de Física Quântica dizia brincando: “Quando você parar de aprender, você pode cavar a sua cova, pois a vida acabou!

Em suas falas, ela deixava claro sobre a importância de olhar para as nossas experiências com um olhar crítico de aprendizado!

O autoconhecimento não é um processo linear. Ele não tem um final.

A única pessoa responsável pelo seu processo de transformação é você mesmo! Não podemos nos apoiar em bengalas esperando alguma solução milagrosa ou mágica, porque isso não existe.

Tome as rédeas da sua vida, esse é o verdadeiro autoconhecimento.

É doloroso, leva tempo, mas é muito gratificante compreender que você é o senhor de si mesmo.

Joana Carreirão

Joana Carreirão

Sou formada em Naturologia Aplicada pela Universidade do Sul de Santa Catarina (UNISUL) e Especialista em Neurociência e o Futuro Sustentado de Pessoas e Organizações, pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.

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