Blog da Joana

Tenho ansiedade ou estou ansioso?

Vivemos tempos definitivamente ansiosos.

Precisamos lidar com a elevada velocidade de informação, com a sobrecarga de tarefas, altos graus de cobrança, poucas válvulas de escape, extrema intolerância ao erro, necessidade de ser multitarefas, falta de tempo.

Esse é um terreno fértil para o aparecimento de formas exacerbadas da ansiedade.

Neste contexto, você já vivenciou uma angústia intensa ou uma preocupação frequente que não te larga?

Um pensamento constantemente preocupado, como por exemplo esse que ouvi de um paciente: 

“Será que daqui dez anos vou conseguir ajudar meus pais quando eles estiverem velhinhos?”…”Como que será sem eles?”…”Não vou conseguir cuidar deles, de mim, da minha esposa e dos meus filhos!” …”Não tenho condições financeiras”…” Não vou conseguir! ”

Acredito que todos nós já vivenciamos preocupações, sofrimentos, angústias e medos. Assim, olhando bem perto essa aflição deste paciente, podemos entender que todos nós também poderíamos ou até já sentimos isso em algum momento da nossa vida

Somos ansiosos ou estamos ansiosos?

Na maior parte das vezes essas preocupações são reais. Elas são dados que derivam das próprias vivências do indivíduo. Dos seus medos e dilemas mais internos.

Contudo, essas preocupações podem se tornar mais intensas, frequentes, intrusas e persistentes.

Torna-se persistente e frequente quando essa preocupação não te deixa. Ela até te deixa momentaneamente, mas depois volta com toda a força.

Ela também é persistente e frequente pois não deixa você pensar em uma solução. Enquanto a sua atenção está focada em visualizar os piores cenários e aumentando as consequências, não conseguimos pensar em mais nada.

Podemos também gastar muita energia mental pensando ou tentando não pensar neste problema.

E essa preocupação pode se tornar intrusa e intensa pois pode gerar uma imensa angústia e sentimento de culpa. Nos sentimos mal e nos cobramos por não conseguir se sentirmos bem.

Ela também não te deixa estar presente. Você não consegue trabalhar, não consegue dormir e priva de perceber os momentos de felicidade.

É uma angústia mental com base em nossa própria experiência, na qual pensamentos e preocupações apreensivos sobre eventos futuros fazem com que a mente fique fora de controle, tornando difícil ou impossível concentrar-se no presente.

Essa preocupação e esse desconforto pode vir como uma pontada no peito e uma imensa falta de ar  – que na parte das vezes é isso mesmo que sentimos  – e que pode vir acompanhada com dores de cabeça intensa ou um aperto no estômago.

Dormir bem então, esquece. Você até se prepara, coloca música, toma um chazinho, mas é colocar a cabeça no travesseiro e tentar relaxar que todos os mesmos pensamentos voltam!

Quanto mais você olha que o tempo está passando e que em 3 horas você já precisa acordar, isso nos deixa ainda mais aflitos.

Resultado: Insônia e baixa produtividade no dia seguinte!

ansiedade

A origem da Ansiedade

A ansiedade tem aspectos fiscos e emocionais iluminados pelas raízes da palavra ansiedade.

Ansietas em latim, significa “angústia” ou “solicitude”, traduz o sentimento de tormento e contração que pode acompanhar a ansiedade. 

A outra raiz latina associada à ansiedade é angere , que significa “sufocar ou apertar” ou, mais figurativamente, “atormentar ou causar angústia”.

Podemos utilizar sinônimos como inquietação, receio, apreensão, pressentimento, aflição, agonia, ânsia, impaciência, irritabilidade.

Basta ler essa lista para nos fazer compreender um quadro mais completo da experiência de ansiedade, abrangendo seus sintomas físicos, emocionais e cognitivos. 

Convivendo com a Ansiedade

Podemos pensar em um indivíduo que esteja se preparando para um Concurso. Consideraremos que ele esteja buscando uma nova colocação no mercado e que exista um certo contexto de pressão interna para conseguir a vaga.

É possível que pensamentos negativos possam começar a surgir como: “ Não vou conseguir passar na prova”…“ Não tenho foco e atenção para estudar ” …” Não consigo melhorar no trabalho atual”… “ Vou perder meu emprego ”…” Não vou conseguir mudar de emprego”… ” Vou ter começar tudo novamente ” …

As preocupações geradas neste contexto podem gerar um estado de ansiedade que pode ser momentâneo ou podem persistir. Às vezes são preocupações de fatos que não sabemos como que será e que também podem estar totalmente fora do nosso controle. 

A verdade é que não conseguimos prever o que vai acontecer. Assim, projetamos no futuro e sofremos imensamente por antecipação. 

Porém, o que precisamos nos perguntar é: Com que frequência sentimos isso? Qual a intensidade disso tudo? 

Como podemos definir Ansiedade?

Biologicamente, a ansiedade é definida como uma sensação de alerta e permite que o indivíduo fique atento a um perigo eminente e tome as medidas necessárias para lidar com a ameaça, se estiver em risco.

Sem a ansiedade, estaríamos vulneráveis aos perigos. Podemos entender que foi a sensação de insegurança que criou o homem moderno.

Sentir-se ansioso pode nos ajudar a evitar o perigo, desencadeando nossa reação de ‘lutar ou fugir’. 

Evoluímos para nos manter seguros. Porém, às vezes podemos ficar excessivamente preocupados com as ameaças percebidas – com coisas ruins que podem ou não acontecer. 

Ficar preocupado com a possibilidade de que uma experiência assustadora aconteça novamente, aproxima do futuro, alimentando a ansiedade.

Ansiedade

O que gera a Ansiedade?

A ansiedade não é causada apenas pelo risco de morrer, de um ataque de um animal ou de um assalto.

Ela é causada por uma ameaça ao longo prazo: não com o tubarão em si, mas a possibilidade de dar de cara com um tubarão e morrer.

A ansiedade é causada por uma possibilidade. Tipo uma premonição.

Não um assaltante com uma arma na cabeça no caixa do banco, mas a possibilidade de que alguém possa assaltá-lo.

Somos hoje expostos a muito mais estímulos que também colocariam nossos ancestrais em estado aversivo.

Imagina nosso ancestral em um estádio de futebol na final de um campeonato? E no trânsito no Rio de Janeiro? Ambientes fechados, veículos em alta velocidade, ruídos altos, procedimentos médicos, ameaça terrorista, acidentes de avião, epidemias de gripe, violência urbana, preconceito…

Enfim, uma conjuntura de informações que fazem nossa mente acreditar que o  meio em que vivemos é demasiadamente perigoso.

Ansiedade e medo

Podemos concluir que basta ter sentido medo, vivenciado ou ter ideia de algo ameaçador para ficar ansioso.

Desta forma, todos nós já experimentamos medo e ansiedade em algum momento da nosso vida. 

Quando tentamos definir ansiedade e medo, elas possuem raizes de sintomas muitos similares, por isso achamos que são o mesmo fenômeno.

A diferença  entre Ansiedade e Medo

Ambos são estados emocionais aversivos gerados por uma ameaça ou uma percepção de ameaça e que têm como objetivo proteger o organismo.

O medo é naturalmente, um componente da ansiedade. 

E como funciona? O medo é uma resposta imediata a um estímulo ameaçador específico. É uma emoção engatilhada por algo muito específico e imediato – por exemplo, estar cara a cara com um tubarão no meio do mar.

Diante desta ameaça é então iniciada uma reação de luta e fuga.

Enquanto o medo é uma reação corporal momentânea, a ansiedade é um estado mental e corporal espalhado no tempo.

Enquanto o medo torna nosso corpo apto para se defender ou fugir de uma situação de frente para nós, a ansiedade antecipa essa prontidão.

Com a ansiedade permanecemos apreensivos, mas na maioria das vezes nem sabemos o motivo e não identificamos qual o gatilho para que possamos nos preparar.

A ansiedade pode ser menos intensa, mas uma resposta mais sustentada às fontes indutoras de ansiedade que podem ser conhecidas. 

Por exemplo, você pode estar ansioso com a possibilidade de ser assaltado no trânsito, enquanto você pode sentir medo se alguém chegar perto de do seu carro.

Se há uma ameaça próxima, diferentes áreas do cérebro nos ajudam a entender a ameaça amplificando ou reprimindo nossa ansiedade e medo.

ansiedade

Então ansiedade é normal?

Até certo ponto, ter ansiedade é uma reação humana normal, sim!

No entanto, se continuar por um período prolongado, pode ter um efeito adverso em nossa vida diária e saúde.

A ansiedade patológica ou desequilibrada são diagnósticos como um Transtorno de Ansiedade, que é uma doença causada pelo excesso de a ansiedade ou medo.

O transtorno de ansiedade interfere no dia a dia da pessoa e também afeta diretamente o seu comportamento e seus hábitos.

Este comportamento faz com que ela tenha pensamentos negativos e uma série de desencadeamentos de sintomas fisiológicos e emocionais que podem prejudicar a vida social e rotina.

Além disso, os Transtornos de Ansiedade podem aumentar a chance de desencadear doenças cardiovasculares, obesidade e diabetes, além de ganho de peso, gordura abdominal e aumento da pressão arterial.

E quando que a ansiedade vira um transtorno?

Viver com uma ansiedade patológica é terrível e é uma das doenças mais incapacitantes.

Para algumas pessoas a ansiedade pode ser esmagadora e pode interferir na vida diária desencadeando uma corrente de comportamentos inadequados ou irracionais. 

Principalmente se ela estiver em uma proporção tão grande, que a pessoa não consegue interagir socialmente, trabalhar, a até mesmo nem sair de casa.

Dentre os transtornos mentais, os de ansiedade são os mais frequentes, segundo a Organização Mundial de Saúde.

Na região metropolitana de São Paulo, quase 20% das pessoas já tiveram ao menos um quadro clínico de ansiedade, segundo um levantamento do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da USP.

Quais são os Transtornos de Ansiedade?

Existem diferentes tipos de Transtornos de Ansiedade.

Por exemplo a Agorafobia é um tipo de transtorno de ansiedade no qual a pessoa teme e evita lugares ou situações que podem fazer com que ela entre em pânico.

Isso impede que ela se sinta presa, desamparada ou envergonhada.

O Transtorno de Ansiedade Generalizada, a TAG, inclui uma ansiedade persistente e excessiva, e preocupação com atividades ou eventos – até mesmo com questões comuns e rotineiras. 

Nesse cado a preocupação é desproporcional em relação à circunstância real, é difícil de controlar e afeta a maneira como você se sente fisicamente. 

Já os ataques de pânico, que é o Transtorno do Pânico envolve episódios repetidos de sentimentos repentinos de ansiedade intensa, medo e terror que atingem um pico em poucos minutos.

O indivíduo pode ter sentimentos de morte iminente, falta de ar, dor no peito ou um coração rápido ou palpitações.

O Transtorno de Ansiedade Social ou conhecido como a fobia social, envolve altos níveis de ansiedade, medo e evitação de situações sociais.  Esse transtorno surge  devido a sentimentos intensos de constrangimento, preocupação em ser julgado ou visto negativamente pelos outros.

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Sintomas físicos e ansiedade

Geralmente os sintomas físicos da ansiedade são os que mais assustam e os que mais debilitam e impedem as pessoas de viver!

A ansiedade patológica pode se manifestar  em uma forma que se assemelhe à outros problemas de saúde que nem associamos.

Às vezes, quando estamos ansiosos, podemos sentir sintomas que podemos pensar que são outros problemas de saúde. 

Ansiedade severa pode resultar em dor no peito, batimento cardíaco acelerado, tontura e até erupções cutâneas. 

Pessoas ansiosas podem pensar que estão tendo um ataque cardíaco e pode ser um ataque de pânico.

Desta forma, uma vez que estamos conscientes de um problema, podemos nos tornar ‘hiper-vigilantes’ na verificação de todos os pequenos detalhes e dores que sentimos. Isso pode criar mais preocupação, tornando a ansiedade mais grave.

Sinais e sintomas 

  • Podemos sentir dores musculares fortes e sem motivo aparente.
  • Podemos sentir uma inquietação, ter um ritmo cardíaco aumentado e respirar muito rapidamente.
  • Além disso podemos sentir suor em excesso, tremores e tontura.
  • Sentindo-se fraco ou cansado, ter problemas para dormir e experimentar problemas gastrointestinais, como náuseas e diarreia

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Eu também posso desenvolver um Transtorno de Ansiedade?

Predisposição genética, fatores ambientais e até mesmo histórico familiar são algumas das centenas possibilidades de origem da ansiedade.

A natureza hereditária de várias formas de transtornos de ansiedade foi estabelecida por meio de estudos clínicos e observacionais. 

Múltiplos estudos demonstraram que uma pessoa tem um risco três a cinco vezes maior de desenvolver transtornos de ansiedade se essa condição for encontrada em parentes de primeiro grau.  

Experiências de vida, como eventos traumáticos na infância, parecem desencadear transtornos de ansiedade em pessoas que já são propensas à ansiedade. 

Fatores internos e externos

Fatores internos, como certos traços de personalidade, também tornam a pessoa mais vulnerável ao desenvolvimento de transtornos de ansiedade.

Vivenciar um grande estresse devido a uma doença ou a uma perda ou separação também podem causar uma preocupação significativa.

Apesar de não serem interpretados da mesma forma por todas as pessoas, alguns fatores externos são bem comuns de desencadearem a ansiedade, como por exemplo pressão no trabalho, doenças ou a perda de um parente.

Esses fatores podem gerar uma preocupação constante a ponto de evoluir de uma ansiedade comum e natural para um quadro mais sério de transtorno;

Outros fatores externos podem incluir exposição ao uso de drogas ou álcool, estilo parental ou presenciar eventos estressantes da família, violência, assim como vivenciar problemas constantes com finanças.

Existem alguns problemas de saúde que podem desencadear a ansiedade como:

  • Doenças cardíacas
  • Diabetes
  • Problemas da tiróide, como o hipertiroidismo
  • Uso indevido ou retirada de drogas
  • Retirada de álcool, medicamentos ansiolíticos como os benzodiazepínicos;
  • Dor crônica ou síndrome do intestino irritável
  • Tumores raros que produzem certos hormônios de luta ou fuga

O que podemos fazer?

Cada indivíduo é único, tem suas experiências e gatilhos, isso nos leva à conclusão que não podemos generalizar ou então colocar em uma prateleira todas as pessoas e taxá-las.

Por isso a importância da investigação e entender o que desperta a ansiedade em cada pessoa.

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Estamos ficando mais ansiosos?

Pensar na ansiedade como um diagnóstico também nos leva a fazer esse  questionamento.

Estamos ficando mais ansiosos?

Hoje temos uma sociedade que nos empurra para situações de mais ansiedade.

Fazemos parte de uma sociedade ansiosa, que vive sempre com senso urgência e sem tempo para estabelecer hábitos saudáveis para o corpo, mente, relações e para o espírito.

Nunca existiu em toda a história da humanidade uma sociedade com uma mente tão estressada e carregada de pensamentos desnecessários como a nossa. Assim, observo que qualquer incerteza ou imprevisibilidade pode ser um gatilho de ansiedade.

E essas incertezas, são gerados por possíveis medos. Medo de ficar sozinho, medo de não conseguir, medo de morrer, medo de perder, medo de não saber o que fazer.

A falta de certeza é uma das principais causas da ansiedade nos dias de hoje. E como a vida é cheia de incertezas, não é de admirar que tantas pessoas estejam ansiosas.

E não importa a época: imprevistos indesejados e situações negativas vão sempre existir. Não temos como controlar.

Atropelando nossas angústias

A impressão que tenho é que toda a tecnologia de hoje exacerbou a nossa pressa em resolver a vida e atropelar a angústia e pensamentos negativos, que são naturais  para nós. 

Parece que estamos sempre desesperados por respostas, reações, soluções de maneira que fica inviável darmos qualquer tempo para a reflexão ou a contemplação.

Esse é um terreno fértil para nos consumirmos em ansiedade. Temos  dificuldade em viver sem estímulos tecnológicos.

Fugimos do silêncio como se fosse um tédio mortal!

A maioria das pessoas chega a casa, liga a televisão, a música, vai ao show e olha mais para telefone para filmar do que entrar em contado com suas emoções e por exemplo as lembranças que a música produz.

Estamos nos afastando da gente mesmo

Nessa guerra, conseguir lidar com ansiedade tem se tornado quase que uma virtude e uma meta geral por parte das pessoas, ou pelo menos deveria.

Assim como a calma e a tolerância estão se tornando adereços de luxo.

Essa crise da ansiedade é vista por muitos como o grande mal do século, uma epidemia  que vem prejudicando de forma exponencial a vida das pessoas.

Porém, um dos itens fundamentais é que precisamos identificar os limites aceitáveis desse tipo de problema.

Como já dizia Machado de Assis “olhando de perto ninguém é normal ”.

Isso demonstra o grau de dificuldade que temos para estabelecer o que é anormal ou normal dentro dessa perspectiva.

Afinal, somos seres humanos, uma formação complexa e cheia de particularidades, influenciadas por diversos mecanismos biológicos e sociais.

E a mudança com certeza é de dentro para fora!

Joana Carreirão

Joana Carreirão

Sou formada em Naturologia Aplicada pela Universidade do Sul de Santa Catarina (UNISUL) e Especialista em Neurociência e o Futuro Sustentado de Pessoas e Organizações, pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.

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