O que é um viés de negatividade?

O cérebro é como um velcro para experiência ruins e como um teflon para as boas. 

Você já percebeu que mesmo que o seu dia tenha ótimo e positivo, caso aconteça algo ruim, aquilo não sai da sua cabeça e estraga todo o dia? Esse é o nosso viés de negatividade.

Seria como que ficássemos grudados como um velcro para experiências negativas e, acabamos passando batido, como um Teflon para experiências positivas.

Esse viés da negatividade refere-se à maneira frequentemente assimétrica de percebermos negativo e o positivo. Simplificando, as experiências negativas tendem a exercer maior impacto psicológico do que as experiências positivas da mesma magnitude. 

Por exemplo, um momento de tristeza ou uma grande discussão, costuma ser mais perturbador para o próprio dia, do que um grande momento de felicidade.

Esse viés explica o motivo pela qual, experiências traumáticas demoram mais e “inflamam” nossos pensamentos, enquanto os momentos mais alegres rapidamente desaparecem em lembranças distantes.

Olhando para o cérebro

Do ponto de vista evolucionário, nossa sobrevivência dependia desse viés negatividade. Desta maneira, esse viés é um produto da nossa própria evolução.

Vamos pensar nos nossos ancestrais. Com certeza aquele que estava curtindo a paisagem e meditando em frente ao lago, não foi o que sobreviveu!

Concluímos, que foi uma maneira dos nossos ancestrais serem cautelosos com os perigos ao nosso redor. Assim, estar constantemente alerta para ameaças e piores cenários, foi o que possibilitou a sobrevivência!

Através da evolução, esse viés tornou-se tão automático, que pode ser detectado no estágio inicial do processamento de informações do cérebro.

Viés de negatividade nos dias de hoje

À medida que esse viés para estímulos negativos se desenvolveu, nossa estrutura cerebral se adaptou lentamente e, eventualmente, ficamos preparados para prestar mais atenção à informação negativa.

Desta forma, esse viés é literalmente um caminho neural fortalecido quando se trata de vivências com conotação negativa.

Isso, por que todas as vivências e experiências, são avaliadas e interpretados por nós de diferentes formas. Podemos interpretar um evento como bom ou ruim, se ele deu certo ou errado.

Futuramente, quando estamos diante de algum alguma situação que se assemelhe aquela experiência, essa situação funciona como um gatilho emocional e – como o nosso sistema emocional é um sistema antecipatório – ativando nossos programas emocionais, e assim, gerando pensamentos e comportamentos.

Com isso, surgem também, uma cascata de pensamentos negativos!

Por um lado, de certa forma, estes pensamentos negativos nos alerta e nos protegem.

Porém, um dos grandes problemas é que quanto mais começamos a interpretar nossas vivencias, como experiências com uma conotação negativa, isso passa a ser uma tendência no meu organismo.

Como que seria essa tendência?

Exemplos: Você recebe um feedback extremamente positivo no trabalho, porém você se vê fixado em uma ou duas críticas.

Ou então, você teve uma discussão no dia anterior, e no dia seguinte, você fica ruminando certas partes negativas da discussão, apesar de ter sido uma conversa objetivamente boa!

Que a verdade seja dita. Todo mundo já passou por esse tipo de situação. Aí fica difícil ser otimista e os pensamentos negativos vêm com força total. O problema ocorre quando a negatividade é frequente, e vira rotina.

E seu cérebro percebe (claro!)! E assim, sofre as consequências se você dorme e acorda sempre nesse mesmo clima.

Pensamentos negativos repetitivos

O pensamento negativo repetitivo pode prejudicar a capacidade do cérebro de pensar, raciocinar e formar memórias. Podemos nem perceber conscientemente que esse pensamento acontece, mas ele é capaz de consumir nossa capacidade finita de recursos cerebrais.

Na prática, também desencadeia uma reposta física, no cérebro, ao estresse. Depois, ficamos ruminando, pensando e não conseguimos parar de pensar nos problemas e preocupações, elas ficam online!

Até certo ponto esses pensamentos negativos eles nos protegem, eles antecedem alguma situação, podendo ser positivo. Porém, em excesso eles podem gerar transtornos de ansiedade, depressivos, além disso, eles tiram a nossa energia ele gera um cansaço e muita fadiga mental.

O pensamento negativo repetitivo é um comportamento comum de pessoas que sofrem depressão, ansiedade, distúrbios do sono ou que têm transtorno de estresse pós-traumático.

O excesso de pensamentos negativos, drenam a nossa energia, gerando cansaço e muita fadiga mental.

Negatividade afeta o potencial do cérebro

Outros estudos apontam que meia hora de negatividade por dia já é suficiente para danificar seu cérebro. E nem precisa partir de você: ouvir alguém reclamar ou assistir a coisas negativas na TV também prejudica.

Essas situações afetam o funcionamento de neurônios do hipocampo: a região frontal que trabalha na resolução de problemas, cuida do funcionamento cognitivo e também da nossa memória.

Escolha que área estimular no seu cérebro

Quem faz academia sabe bem: se treinamos um músculo, ele tende a crescer e ficar forte. Mas, se deixamos de exercitá-lo por muito tempo, acontece o contrário.

Graças ao mapeamento que permite mensurar atividades cerebrais, já é possível perceber que o cérebro trabalha de um jeito parecido: o que incentivamos nele é o que tem mais potencial para se desenvolver.

O que isso tem a ver com pensamentos negativos?

Na parte frontal cérebro, à direita, está o córtex pré-frontal direito: a região responsável pelos pensamentos negativos. Pesquisas mostram que, quem vive pensando negativamente ou pessoas com depressão têm essa parte excessivamente desenvolvida. Poderíamos dizer que seria como um músculo super treinado.

Quando pensamos positivamente, a área ativada no cérebro é outra: também na parte frontal, mas do lado esquerdo (no córtex pré-frontal esquerdo). Durante períodos em que nos sentimos pra baixo, pessimistas, estressados ou depressivos, essa região parece estar menos ativa em relação ao lado direito.

“Os cérebros ficam bons naquilo que fazem sempre”

Mas também podem se viciar. Se você pensa muito de um jeito pessimista, suas redes cerebrais se especializam em produzir pensamentos negativos.

O cérebro acaba ficando bom também em identificar coisas para pensar negativamente sobre elas.

Resumindo, pensamentos ruins incentivam a parte do cérebro especialista neles, e pensamentos positivos estimulam a região “mais otimista”.

A questão é incentivar o que queremos e não dar corda para o que não queremos.Falando assim parece fácil, mas sabemos o quão difícil é mudar velhos hábitos. Uma estratégia é parar e prestar atenção quando os pensamentos negativos vierem.

Fazendo isso, a neuroplasticidade começa a trabalhar a seu favor.  Focar nessa mudança do pensamento e permanecer nela durante o maior tempo possível é uma boa para criar novos “canais” no cérebro.

Não se trata de ser otimista o tempo todo e abominar qualquer pensamento negativo que, por ventura, aconteça ao longo do dia.

Por outro lado, o hábito da negatividade não faz bem para nós, especialmente para a saúde do cérebro, como vimos no artigo.

Lembre-se: cultivar e manter pensamentos bons é uma questão de saúde mental!

Como podemos superar esse viés?

Comece quebrando o ciclo!

No mundo de hoje, ter um viés de negatividade constante não é mais necessário para nossa sobrevivência. Além disso, usá-lo continuamente pode aumentar os níveis de estresse, prejudicar nossa felicidade e a qualidade de vida em geral.

Porém, existe uma maneira de mudar o viés de negatividade do cérebro. Essa é uma questão de treinar nossos cérebros para a positividade, ao tornar-se mais sintonizado com vivências positivas como alegria, interesse, orgulho e amor.

Coloque a atenção nos aspectos positivos

Procure os bons e transforme-os em experiências positivas! Tente fazer isso pelo menos uma vez dia. Quanto mais vezes mantivermos a consciência disso, mais forte será o rastro na memória.

Assim, o sabor do bom café, um belo pôr do sol ou um elogio inesperado, tente transformá-lo em uma boa experiência, observe-o e saboreie-o .

Outra sugestão, é fazer isso ritualmente. Você pode criar um tempo para uma reflexão antes de dormir, por exemplo. Um exercício em particular é a atenção plena. Esse é um estado de chamar a atenção para as experiências externas e internas que ocorrem no momento presente, uma técnica usada no Mindfulness.

Assim, qualquer momento em que você conscientemente decida absorver o bem, fará uma pequena diferença e, com o tempo, essas pequenas diferenças se somarão.

Bem, não somos capazes de desfazer esse desenvolvimento evolutivo, mas podemos restaurar o equilíbrio em nossas vidas, mudando a maneira como interagimos com estímulos positivos. Esse processo chama-se “absorver o bem”.