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Chá verde como tratamento para ansiedade?

E se eu disser que uma xícara de chá pode ser um tratamento para ansiedade ou ser benéfico para prevenir a demência?

Bom, é exatamente isso que muitos pesquisadores estão tentando descobrir!

Em uma recente reportagem de 2019, a Revista Nature Neuroscience, apresentou as principais pesquisas científicas relacionando os benefícios do chá verde com a saúde mental.

De acordo com essas pesquisas recentes apresentadas, os ingredientes de uma xícara de chá verde poderiam melhorar o estado emocional, aprimorar a atenção e concentração e até serem positivos no tratamento para ansiedade, depressão, bem como prevenir a demência.

chá verde e ansiedade

A Camellia Sinensis

Não é novidade que durante séculos, pessoas de todo o mundo testemunharam as qualidades calmantes e revigorantes do chá do verde.

Assim, os tradicionais efeitos calmantes do chá verde e suas variações – uma vez que a Camellia sinensis pode se apresentar de diferentes formas como chá verde, chá preto, matchá – elevaram a bebida a um papel muito além de um chazinho.

O Matchá por exemplo – uma das formas mais em alta da Camellia sinensis – é consumida por Monges Budistas como uma ajuda complementar à meditação, proporcionando calma e relaxamento, ao mesmo tempo que ajuda no foco e na atenção concentrada.

Contudo, embora os benefícios para a saúde mental da Camellia sinensis sejam de conhecimento comum entre os que utilizam o chá, somente agora os cientistas estão começando a examinar como que ele exerce seus efeitos sobre as emoções e a cognição.

Pesquisas científicas sobre o Chá Verde

Pesquisas demostram, por exemplo, que a utilização reduz os níveis do hormônio do stress, o cortisol.

Além disso, estão surgindo evidências dos benefícios para a saúde a longo prazo. Quantidades como de 100mg por dia parecem diminuir o risco de desenvolver um transtorno depressivo, bem como evitam a demência.

Os cientistas também estão tentando identificar os principais compostos ativos que dão à planta seus benefícios à saúde mental. Eles buscam identificar se estes ativos atuam sozinhos ou em combinação com outros compostos presentes na planta.

Existem muitos compostos presente no chá. Encontramos, catequinas – que são antioxidantes, como o Galato de Epigalocatequina que são responsáveis por até 42%. Já o aminoácido L-teanina representa cerca de 3% e estes é responsável pela ação de relaxamento.

Além disso, 5% do Chá Verde é composto por cafeína, conhecida amplamente por melhorar a atenção e a cognição.

tratamento para ansiedade

Chá Verde como tratamento para ansiedade

A verdade é que o efeito destes componentes químicos no comportamento é um tanto paradoxal. Pois, ao mesmo tempo que é calmante, nos mantém alertas!

Com estes dados, as explorações sobre os efeitos na saúde mental ocorrem em um momento de crescente interesse científico no papel dos nutrientes na saúde mental e na medicina preventiva.

Atualmente, profissionais da saúde precisam, além de uma abordagem multidisciplinar, buscar maneiras novas para o tratamento para ansiedade, depressão e para o declínio cognitivo relacionado à idade.

Já sabemos como que estas condições sobrecarregam os sistemas de saúde no mundo todo e que as opções de tratamento são bem limitadas.

Contudo, a ideia de que compostos nutricionais presentes nos alimentos possam auxiliar ou retardar o declínio cognitivo, pode ter implicações enormes para a medicina preventiva.

Sabemos que a maioria das pessoas com algum transtorno de ansiedade ou depressão nunca encontra um tratamento eficaz.

Apesar disso tudo, os pesquisadores ressaltam que precisamos ser cautelosos quanto aos benefícios que o chá pode ter para as pessoas, que estão clinicamente com depressão ou ansiedade.

Até por que, os pesquisadores precisam fortalecer o entendimento de como que esses compostos ativos agem no organismo, bem como as doses necessárias para produzir efeitos a curto e longo prazo.

Benefícios da bebida

De fato, o Chá Verde é um grande negócio. É uma das bebidas mais consumidas no mundo, e a indústria está em crescimento.

A maioria dos estudos científicos são provenientes de estudos epidemiológicos, que mostram de uma forma geral um efeito positivo no estado emocional e nas funções cognitivas.

No início de 2019, um estudo demostrou que em uma população coreana saudável, aqueles que tinham o hábito de consumir chá verde tinham 21% menos probabilidade de desenvolver um transtorno depressivo ao longo da vida, do que aqueles que não usavam.

Esse estudo coreano mostra que o chá tem um efeito forte, comparado ao de 2h50min de exercício por semana!

Chá verde e funções cognitivas

Um outro estudo com indivíduos com mais de 55 anos, por exemplo, descobriu que aqueles que tomavam apenas uma xícara de chá por semana tiveram melhor desempenho em tarefas de processamento de informações e memória, do que os que não tomavam o chá.

Claro que os estudos epidemiológicos possuem suas limitações. Existem outros fatores, estilo de vida e genética, que podem ser responsáveis pelos resultados positivos.

Além disso, um fator de confusão é que o processo ao preparar e beber chá está causando um efeito nas pesquisas, não a planta em si.

Chá Verde para relaxar?

Em 2007, um estudo investigou se os efeitos relaxantes do chá são um resultado biológico direto ou devido um contexto social na qual a bebida é consumida, como por exemplo usar o chá antes de sentar-se em silêncio para relaxar.

Isso foi proposto, em função da ideia que o chá verde é frequentemente consumido em condições favoráveis ao relaxamento, como após o almoço, na qual pode ser responsável pelos benefícios aparentes.

Tratamento para ansiedade
A magnetoencefalografia pode ser usada para avaliar a atividade cerebral após o consumo de chá. (Foto Nature)

No estudo foi examinado o efeito em homens saudáveis que utilizavam o chá preto em comparação com um placebo com cafeína.

O chá verde e o placebo foram apresentados como um chá de frutas para disfarçar as diferenças entre as duas bebidas.

A princípio, os pesquisadores descobriram que o chá verde ajudou as pessoas a se recuperarem mais rapidamente de uma tarefa estressante.

Como resultado, os níveis de cortisol na saliva – hormônio do estresse – caíram para 53% dos níveis basais, dentro de 50 minutos da tarefa para o grupo que toma chá.

Isso em comparação com 73% da linha basal dos usuários do placebo.

Da mesma forma que os que consumiram o chá verde também disseram que se sentiam mais relaxados, em contraponto aos que do que tomaram o placebo.

Ingredientes que estimulam o cérebro

Pesquisadores também estão começando a observar quais compostos dão ao chá suas propriedades benéficas.

Os testes dos principais constituintes – L-teanina e EGCG – sugerem que eles contribuem tanto sozinhos, quanto em combinação com a cafeína.

Outro estudo em 2016, relatou que voluntários que consumiram uma bebida nutritiva contendo 200mg de L-teanina apresentaram níveis mais baixos de cortisol. Estes também relataram se sentir mais relaxadas após realizar as tarefas, do que aqueles que consumiram um placebo.

Os pesquisadores também usaram a magneto encefalografia para avaliar as mudanças na atividade cerebral associados ao chá verde.

Contudo, pessoas naturalmente mais ansiosas mostraram um aumento nas ondas cerebrais de baixa frequência, conhecidas como atividade alfa. As ondas cerebrais alfa estão associadas ao relaxamento e o baixo processamento cognitivo.

Estudos científicos no tratamento para ansiedade

Em um estudo anterior, a L-teanina melhorou a memória e o tempo de reação quando ingerida com cafeína – e que o efeito foi maior que ambas isoladamente.

O resultado dos efeitos contrastantes de L-teanina, seria um estado mental de relaxamento, ao mesmo tempo de ser capaz de estar atento, quase que como um Café Zen.

Assim, esse estado meditativo e relaxado que pode ser atingido, em parte pela L-teanina, em áreas do cérebro que não são necessárias para a realização de tarefas, como mostra a análise do MEG.

chá verde e ansiedade

O Chá Zen

A L-teanina poderia atuar na química do cérebro de várias maneiras.

O composto passa pela barreira hematoencefálica, de modo a beneficiar diretamente a plasticidade cerebral – o processo pelo qual o cérebro se regenera.

Assim, também poderia atuar no eixo hipotálamo-hipófise-adrenal (sistema de resposta ao estresse do corpo), reduzindo os níveis de cortisol.

Testes em animais sugerem que a L-teanina aumenta o neurotransmissor GABA (ácido γ-aminobutírico), que por sua vez reduz a ansiedade.

EGCC do Chá Verde

Em conjunto, outro componente importante, a EGCG, também parece contribuir para os benefícios de saúde mental, para além da ação antioxidante.

No estudo, pesquisadores utilizaram a eletroencefalografia para comparar a atividade cerebral de pessoas que consomem um chá contendo EGCG ou um placebo.

Consumidores de EGCG apresentaram um aumento na atividade cerebral em todas as banda: ondas alfa e teta, associadas ao estado de vigília. E também aumento nas ondas beta, que aumentam com foco e atenção.

O estudo sugere que o EGCG gera um estado mental relaxado e atencioso.

Da mesma forma, estudos em animais e in vitro mostraram que o EGCG também atravessa a barreira hematoencefálica atuando diretamente no cérebro.

Assim, isto poderia melhorar a saúde dos vasos sanguíneos e aumentar o suprimento de óxido nítrico que, juntos, poderiam beneficiar a função cognitiva.

Mistérios do Chá Verde

Embora a pesquisa sobre os benefícios do chá verde para a saúde mental esteja aumentando, muito ainda é desconhecido.

Mas por enquanto, não há motivos para não incentivar um hábito.

Conclui-se que, consumir o chá verde, pode fornecer um plus a nossa cognição! Além disso, pode ser um tratamento para a ansiedade e até mesmo melhorar nosso estado emocional.

Fonte: Nature. The science of tea’s mood-altering magic. 06/02/2019
Referências
  • Kim, J. & Kim, J. Nutrients 10 , 1201 (2018).
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  • Camfield, DA et al. Nutr. Rev. 72 , 507-522 (2014)
Joana Carreirão

Joana Carreirão

Sou formada em Naturologia Aplicada pela Universidade do Sul de Santa Catarina (UNISUL) e Especialista em Neurociência e o Futuro Sustentado de Pessoas e Organizações, pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.

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