Blog da Joana

Ansiedade é genética? Conheça as causas da Ansiedade

“Estou ansioso!” Essa é uma frase corriqueira, usamos a palavra ansiedade com a maior facilidade!

Acredito que nesta busca em desenvolver tratamentos para ansiedade, estamos na busca eterna também por um fator determinista e certo, do que causa essa epidemia.

Será que é um desequilibrio químico ou a é ansiedade que desregula a química cerebral? Será que a genética determina a ansiedade? O que causa a Ansiedade?

Mas será que é fácil chegar a esta resposta?

Embora a nossa compreensão sobre as condições neuropsiquiátricas, como ansiedade e depressão, tenha avançado muito ao longo dos anos, ainda há grandes lacunas em nosso conhecimento.

Desta forma, a ansiedade não se manifesta apenas em pensamentos.

Ela afeta a química cerebral de uma forma que altera nossos batimentos cardíacos, afeta o funcionamento de todo o corpo, muda nosso sono, nosso rendimento no trabalho e prejudica nossos relacionamentos pessoais.

Causas da Ansiedade

Entendendo as causas da Ansiedade

Não é de surpreender que seu cérebro seja a fonte de sua ansiedade. 

Isso porque, a ansiedade do ponto de vista do cérebro é uma evolução adaptativa da nossa espécie.

Como assim?

A raiz biológica da ansiedade é o medo, que é uma emoção base, uma das mais primitivas.

O medo é um sistema de avaliação e reação às ameaças, garantindo uma reação de evitação a tudo que abale nossa sobrevivência.

Para isso, estamos sempre com um radar interno ligado.

Desta forma, desenvolvemos uma tendência de voltar nossa atenção para os eventos negativos e também avaliamos muito mais as nossas experiências neste viés negativo.

Com isso, dando uma conotação sempre negativa os eventos como uma forma de proteção.

Pense em como você fica quando dispara uma alarme de casa no meio da noite: O que você sente?

O seu organismo reage antes mesmo de você “pensar “o que está acontecendo.

Pupilas dilatam, audição fica aguçada, sangue vai todo para as extremidades, músculos ficam tensos, frequência respiratória aumenta, batimentos cardíacos também aumentam e esse reação de alerta é a chamada resposta de luta ou fuga.

Na nossa evolução, o desejo intrínseco de permanecer vivo tornou-se uma forma de evitar o risco obsessivo.

A ansiedade não é inata

A ansiedade não uma uma resposta inata assim como o medo.

Ela não é um estado pré-embalado, simplesmente esperando para serem liberado no cérebro frente a algo que está acontecendo ou que vai acontecer daqui cinco minutos, como o medo.

Entretanto, a experiência que algo possa acontecer do futuro é o que gera no presente as reações da ansiedade.

Por um lado isso é ótimo! Assim, podemos nos antecipar de um perigo futuro e desenvolver estratégias corretas para essa ameaça.

Porém, ela é acionada diante de uma possível ameaça mesmo que ela seja assim tão certa de acontecer.

Nós tornamos um tanto videntes quando de trata de ameaças.

Nasci para ser ansioso?

Todos nós temos genes na qual possuem códigos de regulação e funcionamento do todo o nosso organismo.

Existem alguns genes que podem gerar mudanças no nível de substâncias químicas no nosso cérebro, gerando mudanças nas conexões entres os neurônios.

E como consequência, podendo tornar os indivíduos mais suscetíveis ou sensíveis as ameaças do meio externo.

As principais pesquisas de Neurociências demostram que temos um conjunto de genes que podem levar a pessoa a lidar de uma forma não adaptada ao meio, como no Transtorno de Estresse Pós-traumático.

Genes da Ansiedade

Um deles é o gene FKBP5, (ele é um co-fator do receptor de glicocorticóides) e é pertinente nas formas não adaptadas ao estresse neuroendocrinológico. 

As variantes desse gene estão associadas a riscos alterados de depressão, ansiedade e transtorno de estresse pos traumático.

Já o gene DISC-1 (o nome é Disrupted in Schizophrenia-1) interage extensivamente com as vias de transdução de sinal dos sinais de estresse.

Anormalidades na estrutura ou a regulação da proteína tem sido implicada não apenas na esquizofrenia, mas também na depressão e no transtorno bipolar.

Mas calma, a genética não é determinista!

Ela é uma tendência, uma pré-disposição que pode variar de 15 a 60% de chance de desenvolver uma doença.

E ela precisa de que? Ah, de um gatilho! Por exemplo o estresse crônico vivenciado na infância.

Somos o resultados das nossas experiências

Todas as nossas vivências e experiências podem funcionar como gatilhos para desencadear a ansiedade.

Principalmente na infância, estas vivências possuem um grande impacto decorrente da plasticidade cerebral é muito maior nesta fase.

Vivenciar um grande estresse devido a uma doença ou a uma perda ou separação também podem causar uma preocupação significativa.

Apesar de não serem interpretados da mesma forma, vivenciar  um grande estresse na infância devido a uma doença, uma perda ou uma separação, abuso ou bullying podem  ser tão intensas a ponto de desencadear um transtorno.

Circuitos neurais ansiedade

Como que tudo isso altera a estrutura cerebral?

Até recentemente, os cientistas acreditavam que uma área especifica do cérebro,  a amígdala, servia como centro da ansiedade. 

Estudos mostravam que macacos com danos na amígdala eram excepcionalmente estoicos diante de estímulos assustadores, como uma cobra no meio do caminho! 

Em pessoas com transtorno de ansiedade, pensávamos que a ansiedade era causada apenas por uma amígdala hiperativa – uma relações de causa e efeito simples.

Circuitos da Ansiedade

Hoje sabemos que a ansiedade é o resultado de conversas constantes entre várias regiões diferentes do cérebro – uma rede neural da ansiedade – na qual as interações entre muitas áreas do cérebro são importantes para a forma como vivenciamos a ansiedade. 

Uma estrutura fundamental é o hipocampo que desempenha um papel vital na resposta ao estresse e na regulação do eixo hipotalâmico-hipofisário-adrenal (HPA). 

Tanto o crescimento do hipocampo quanto a neurogênese desempenham um papel essencial no desenvolvimento da resiliência em relação ao estresse e à ansiedade.

hipocampo é a parte do cérebro que codifica eventos ameaçadores nas memórias. Estudos mostraram que o hipocampo parece ser menor em algumas pessoas que foram vítimas de abuso infantil.

Encontramos alterações na conectividade entre as áreas como a Amígdala, o Hipocampo, e entre o Córtex Cingulado Anterior (que faz regulação da resposta emocional ruim e negativa).

Encontramos uma conectividade também entre o Córtex Pré frontal, que atua amplificando ou inibindo os sinais vindos das possíveis ameaças.

Algumas pesquisas mostram que, quando pacientes ansiosos olham imagens de rostos medrosos, o Córtex Cingulado Anterior e a Amígdala são ativados. Com isso, aumenta aquela conversa interna produzindo ansiedade que podemos medir!

Qual é a alteração química cerebral?

Além mudanças anatômicas, é essencial entender que a funcionalidade ou a comunicação no cérebro, entre os vários centros e redes cerebrais, ocorre através de neurotransmissores. E é aqui que os remédios psiquiátricos atuam.

Na ansiedade temos uma baixa de GABA (ácido gama-aminobutírico) que é um neurotransmissor que inibe o funcionando do sistema nervoso, provocando sonolência e relaxamento.

Existe também um aumento de Glutamato. Ele é responsável por aumentar a condução dos impulsos nervoso, bom para concentração e foco, mas aumenta muito os com pensamentos negativos.

Além disso, existe também um aumento de Noraedrenalina que responsável pelo foco e concentração e mas também aumenta a sensibilidade a dor física.

Já as alterações de serotonina são bastante significativas. A baixa deste neurotransmissor aumenta a sensibilidade a ameaças e perigos, assim ficamos mais sensíveis às coisas negativas.

Logo, se o cérebro não tem quantidade suficiente de serotonina, isso pode gerar sintomas de ansiedade.

Muitas vezes é impossível distinguir entre o equilíbrio deficiente dos neurotransmissores como resultado da experiência de vida ou o fraco equilíbrio dos neurotransmissores como resultado da genética. 

Ambos podem ocorrer em qualquer pessoa que viva com ansiedade. Porém em alguns casos, uma combinação de ambos pode ser responsável por sintomas de ansiedade.

Hormonios na ansiedade

Quais são os hormônios da Ansiedade?

Os hormônios da ansiedade têm uma relações direta com o estresse crônico. Não temos um hormônio especifico da ansiedade.

Na realidade, temos um desequilíbrio hormonal diante de vivências de estresse crônico.

A alteração hormonal na ansiedade surge de uma ativação excessiva do mecanismo cerebral subjacente ao medo e à resposta de luta ou fuga.

Existe uma ativação do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal (HPA), que é a marca neuroendócrina característica da resposta ao estresse.

A chamada Síndrome de Adaptação Geral é a resposta característica ao estresse agudo. Temos a liberação do hormônio corticotrópico (CRH), o hormônio adrenocorticotrópico (ACTH) e a liberação do cortisol na corrente sanguínea como resultado da ativação deste eixo.

A adrenalina também é um hormônio frequente nos sintomas de ansiedade. O corpo libera quando o sistema de alerta está ativo, aumentando a frequência cardíaca, a tensão muscular e muito mais. 

Quando experimentamos uma situação estressante nosso corpo responde liberando esses hormônios para ajudá-lo a lidar com a ameaça e prepará-lo para a ação.

No entanto, em face de nenhuma ameaça física real, os níveis excessivos desses hormônios deixam você ansioso, a tal ponto de experimentar uma crise de pânico.

O ciclo vicioso da Ansiedade

Os hormônios geram ansiedade, e a ansiedade faz com que mais hormônios sejam liberados, e assim por diante.

O estresse quando crônico, desequilibra esse eixo, gerado uma resposta inflamatória no corpo, presente nos transtornos de ansiedade.

O estresse crônico diminui a capacidade de formar novos circuitos, novas conexões. Porém na amígdala, a química do estresse aumenta os circuitos!

E o que isso significa, Joana?

Que quando estamos estressados, aprendemos  a ter medo quando não há necessidade.

O caminho para um transtorno de ansiedade incapacitante é pavimentado com maiores conexões na região da amígdala!

Resumindo, o estresse é um fator de risco para transtornos neuropsiquiátricos, como depressão, ansiedade e outros comportamentos de dependência.

Hábitos de vida

Agora entendemos que eventos estressantes podem alterar a química e estrutura cerebral, tornando as pessoas mais suscetíveis a ansiedade.

Consequentemente, o ambiente que vivemos funciona como um grande gatilho desencadeante de quadros ansiosos.

Além disso, fatores como exposição ao uso de drogas ou álcool, ou presenciar eventos estressantes da família, violência, bem como vivenciar pressões constantes com finanças podem funcionar também como gatilhos para ansiedade.

Hoje sabemos que profissões que demandam muita exigência, que possuem um clima de incerteza e muita cobrança por desempenho são os mais suscetíveis a desenvolver um transtorno.

Desta forma, o alerta vai para profissionais do setor financeiro, bancários, professores, profissionais que lidam com o público!

Juntando fatores para a Ansiedade

O nosso estilo de vida pode funcionar como um grande gatilho da ansiedade.

Excesso de trabalho, pressão, isolamento social, falta de lazer, mudanças intensas no ambiente, uso de substâncias como drogas, sedentarismo, alimentação pobre e falta de sono são fatores importantes.

Além disso, convenhamos que viver em grandes metrópoles pode ser bem estressante!

Os motivos são muitos!

A quantidade de possíveis situações ameaçadoras aumentam a cada segundo. Ou seja, aumentando nossa percepção de insegurança.

A enorme desigualdade social que vivemos no Brasil, deixa os indivíduos com medo, inseguros. Viver uma economia frágil gera ansiedade constante de perder emprego.

Isso por si só já uma grande ameaça. Não é à toa que estamos no ranking da ansiedade mundial.

Viver também em uma grande cidade gera também relações sociais um tanto superficiais.

Viver sozinho, longe da família, a dificuldade em ver os amigos, trabalhar em excesso, sem tempo e com uma vida corrida é um prato cheio para ansiedade.

Essa baixa qualidade de relações é igual a um isolamento social.

O excesso de percepção de ameaças constantes, faz com que o cérebro coloque as pessoas em um modo de autopreservação, gerando mais  ansiedade.

Esse comportamento leva as pessoas a usarem as redes sociais em função desse mecanismo de autopreservação.

Muitos aliviam o estresse com comidas fastfood, álcool, cigarro e drogas, além do uso inadequado de medicamentos para dormir e para relaxar.

Com diminuição de fatores protetores, como fortes conexões sociais, contato com a natureza, prática de atividade física, exposição a luz solar e alimentação saudável.

Tudo isso corresponde a mais situações que desencadeiam ansiedade.

O que podemos fazer?

Acredito que a melhor notícia que temos é que com o avanço no conhecimento sobre a relação entre o ambiente e o genoma. 

Isso ajuda a combater aquele determinismo genético.

Que seria aquela ideia que, se eu nasci com genes da inteligência, serei inteligente. Ou então, se você nasceu com genes saudáveis, será saudável, não importa o que você faça.

Bom, não é bem assim.

Diversas pesquisas já mostram que da mesma que hábitos ruins podem funcionar como gatilhos, hábitos saudáveis como a Meditação podem silenciar esses genes e ativar de genes que regulam a produção de serotonina.

Práticas de Mindfulness já são comprovadas cientificamente por modular a expressão genica, diminuindo a atuação de genes responsáveis pela resposta inflamatória no organismo.

Isso coloca mais peso nas nossas escolhas.

Apesar das causas serem multifatoriais, podemos mudar a partir dos nossos hábitos

Contudo, isso mostra que temos controle enquanto pais, enquanto formuladores de políticas públicas e enquanto sociedade.

Isso pode definir novos modelos para políticas públicas, nas educações em escolas, corporações e em casa com nossa família.

Joana Carreirão

Joana Carreirão

Sou formada em Naturologia Aplicada pela Universidade do Sul de Santa Catarina (UNISUL) e Especialista em Neurociência e o Futuro Sustentado de Pessoas e Organizações, pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.

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