Blog da Joana

Conseguimos controlar nossas emoções?

Essa semana, sentei para pesquisar e escrever sobre Gestão Emocional. E, então, resolvi jogar no Google “curso de inteligência emocional” para ver o que ele me trazia sobre o tema.

Preciso confessar que fiquei surpresa com as respostas!

Primeiro que, todas as imagens vinculadas as propagandas dos cursos, eram imagens de pessoas sorrindo, livres e felizes.

Além disso, de uns dez cursos que olhei o conteúdo, somente um trazia algo sobre os aspectos biológicos e cerebrais que relacionamos à emoção.

Fiquei pasma com as descrições que os cursos apresentam!!!

Eles dão a entender que, ao juntarmos os muito positivos com os inteligentes emocionalmente, teremos a FELICIDADE PLENA!

Queria mesmo que tudo fosse tão fácil quanto o que é mostrado nessas propagandas…

Já fiz muitos cursos sobre esse assunto e, ao meu ver, a pior parte deles é que, o termo “inteligência emocional” sempre vem relacionado a controle. Eles carregam o slogan – “aprenda a controlar as suas emoções e você nunca mais sentirá raiva na vida e será feliz para sempre”.

Curiosamente, a grande maioria dos cursos que tenho observado não explicam o que é uma emoção. E sempre colocam emoção e sentimento como um mesmo fenômeno.

Muitos cursos acabam classificando as pessoas entre tipos emocionais e racionais. E o objetivo da maioria deles é ensinar apenas como identificar e controlar as emoções.

Fiquei preocupada e incomodada com essa visão alterada que as pessoas estão tendo sobre os sentimentos e emoções.

A questão que gostaria de discutir é: Como podemos querer ser inteligentes emocionalmente apenas controlando uma emoção, sem saber de que buraco ela saiu, como surgiu e qual é o papel dela no nosso organismo?

Ou seja, precisamos primeiro entender a origem para depois compreender como se manifesta, e, FINALMENTE, tentar gerir alguma coisa.

As emoções e as reações corporais

Você já teve aquele famoso piriri de nervoso antes de alguma prova ou até mesmo antes de viajar? Já ficou muito ansioso com algo que iria fazer, sem conseguir parar de pensar naquilo nem por um segundo? Se atrapalhou com horários ou teve dificuldades em se alimentar diante de um novo acontecimento? Provavelmente uma dessas coisas já aconteceu com você (comigo então, sempre acontece diante de uma palestra importante!).

Essas são reações emocionais!

Segundo Antonio Damásio, um neurocientista português que eu adoro, a emoção é como um programa de ações. É uma coisa que se desenrola com ações sucessivas, como um concerto de ações fisiológicas.

Aquele aperto na garganta, frio na barriga, sensação de dor na boca do estômago, mau estar, sensação de congelamento no corpo todo (quando ouvimos uma notícia ruim, por exemplo), boca seca, coração batendo mais forte, pupilas dilatadas, TUDO ISSO, são reações fisiológicas, e isso é EMOÇÃO.

Tudo acontece com o nosso corpo, desencadeando reações nos músculos, coração, pulmões e até hormonais!

Uma emoção é um conjunto de respostas fisiológicas que o cérebro faz aparecer no nosso corpo em reação a algum evento.

É um programa de movimentos, como a aceleração ou desaceleração dos batimentos cardíacos, tensão ou relaxamento dos músculos, etc.

Podemos pensar que existem “programas de ação“, como um Drive, para cada evento: um para o medo, um para a raiva, outro para a alegria, etc.

reações emocionais

As emoções foram eficazes na função de nos manter vivos ao longo da evolução, nos ajudando na adaptação aos meios.

Exemplos:

O medo fez com que ficássemos menos expostos ao perigo e, assim, tivemos mais chances de sobreviver.

A alegria e o prazer nos incentivou a fazer o que fosse preciso para evoluir (inventar solução para os problemas, comer, nos reproduzir, entre outros).

As emoções como a compaixão, a culpa e a vergonha são essenciais, pois orientam o nosso comportamento moral.

Se fizermos alguma coisa errada em relação a outra pessoa, vamos nos sentir envergonhados, fazendo surgir a culpa.

Agora entramos na problemática do momento:

Afinal, emoção e sentimento são a mesma coisa?

Sentimento: um processo cognitivo

Vamos simplificar essa explicação:

  1. A emoção é uma reação mais rápida e fisiológica;
  2. O sentimento é um processo POSTERIOR. É quando tomamos consciência da emoção, ou seja, um processo cognitivo.

Um sentimento é a forma como a nossa mente vai interpretar todo o conjunto de movimentos que a emoção nos trouxe! É uma experiência mental que temos sobre o que acontece com o nosso corpo e como construímos um significado.

Por exemplo: quando dizemos que sentimos fome. Essa ação já é uma interpretação da nossa mente de que o nível de glicose no sangue está baixando e que precisamos nos alimentar! Depois de sentir mais de uma vez essas sensações, aprendemos a dar nome a elas.

Quer outro exemplo?

Quando dizemos “Estou de coração partido!“.

Essa expressão, por mais simbólica que seja, é entendida por nós e até ‘sentimos‘ essa sensação quando alguém fala pra gente.

coração partido

Alguns mamíferos tem emoções mais elevadas, como a compaixão por exemplo, que é desenvolvida especialmente no vínculo entre as fêmeas e filhotes.

Elas os tratam com um carinho que é emocional e TOTALMENTE inato, ou seja, que nasceu com elas, natural, ninguém as ensinou a ser assim.

Nos mamíferos como os elefantes, quando perdem um companheiro, ficam tão tristes que até deixam de brincar, fazendo até um tipo de luto.

Tudo isso é inato!

E o que acontece com nós, seres humanos?

Em nós, esses programas considerados “inatos” foram refinados ao longo dos anos por meio da nossa cultura.

Pense bem: O sofrimento em relação a morte, por exemplo, é algo que aprendemos culturalmente aqui no Ocidente. No Oriente, as pessoas tem uma interpretação completamente diferente sobre a morte.

Nosso cérebro é capaz de representar tudo aquilo que se passa dentro e fora do nosso corpo de uma forma detalhada.

Para resumir, nossa mente é como um filme sobre o que se passa no corpo e no mundo a volta.

inteligência emocional

Por isso, a importância das emoções e dos sentimentos na construção do nosso raciocínio é um dos pontos mais importantes no nosso desenvolvimento como pessoa.

No nosso dia a dia, os termos emoção e sentimento acabam sendo utilizados como sinônimos. Mas pelo olhar da Neurociência, eles possuem diferenças bastante significativas.

Quando nos dedicamos a olhar essas diferenças, nossa compreensão sobre o comportamento humano amplia e nos ajuda a organizar os sentimentos que compartilhamos em sociedade.

Você deve estar se perguntando porque é tão importante diferenciar o sentimento da emoção e porque insisto em falar isso.

Como já mencionei aqui, muitas reações que temos são incompreendidas até por nós mesmos! Entender sentimento e emoção, seu surgimento e como se desenvolvem é primordial para o autoconhecimento e gestão das emoções.

E mais uma vez: tomem cuidado com tudo o que for exagerado (seja positivo ou negativo), cuidado com as promessas de controle emocional e com tudo o que for milagroso. Isso não é inteligência emocional.

Não tem fórmula, mas é preciso construir esse caminho. Compreender suas fases, cair quando necessário, e aprender a balancear e gerir as emoções.

Para isso, elaborei um artigo sugerindo práticas e oferecendo basicamente um ‘passo a passo’ para gerir suas emoções de acordo com a Neurociência.

Entendendo bem esse caminho, podemos interferir nos momentos certos e evoluir cada vez mais na busca do autoconhecimento.

Joana Carreirão

Joana Carreirão

Sou formada em Naturologia Aplicada pela Universidade do Sul de Santa Catarina (UNISUL) e Especialista em Neurociência e o Futuro Sustentado de Pessoas e Organizações, pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.

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